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nas cidades nordestinas afetadas pelas últimas chuvas, milhares de brasileiros não assistiram ao jogo no conforto de suas casas, pois suas TVs encharcaram de lama, os sofás estavam misturados aos destroços ou boiando nas correntezas dos rios. Na maioria das cidades atingidas não havia luz elétrica e muitos não podiam se deslocar, pois diversas estradas estavam interditadas. Há relatos de pessoas que andaram bastante em busca de notícias do jogo do Brasil, penso que o velho radinho de pilha deve ter sido uma relíquia bem disputada.
Quarta-feira, 23.junho.2010, não fosse a tragédia, nesta manhã nos lares as atividades de descascar milho, ralar coco para a pamonha e canjica seriam ordens do dia. Numa dessas ruas que hoje imperam os destroços, talvez houvesse uma mulher andando de forma distraída com uma panela que pegou emprestado da vizinha.
Seria muito bom se estas pessoas pudessem agora ter preocupações como arranjar uma panela grande para cozinhar o milho; papeis coloridos para as bandeirinhas, contratação de sanfoneiros, mas estão desoladas em busca de solução para a casa que caiu, a falta do que comer, a falta de eletricidade e água potável. Ainda tem os que tentam achar familiares desaparecidos e, mais triste ainda para quem já tem certezas de parentes e amigos mortos.
As pacatas cidades de interior da minha Alagoas tem um clima de poesia. Na minha memória lembro de ruas que terminam numa igreja, casinhas de coloridos singelos, mulheres nas calçadas, crianças brincando, árvores generosas que abrigam cachorros preguiçosos e homens jogando.
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Estou longe de minha terra, sinto um rio de emoções, rio caudaloso que leva meu pensamento longe, tentando entender as perdas e os significados desse momento.
Por Regina Barbosa
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